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Por um mundo com menos "piruás"​

Há uma crônica bastante conhecida de Rubem Alves que diz: "a transformação só acontece pelo poder do fogo". Para alguns, esse texto pode ser mais do mesmo, mas relembro alguns trechos do original, começando por este:


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser."


Seja na vida pessoal seja na carreira profissional, é preciso lembrar que podemos estar mais amadurecidos, mais experientes em nossa jornada, mas somente a convicção de que há sempre muito a aprender é o que nos moverá continuamente. Ou acreditamos nisso ou nos conformamos com a estagnação, com a mesmice. Passar pelo fogo é aceitar o desafio; é viver e experimentar novas situações, lucrar com novos conhecimentos (e o mais importante: compartilhá-los) e aproveitar todos os aprendizados para, então, concluirmos se valeu a pena ou não ter passado por esse fogo. Isso nos torna mais fortes e nos leva, invariavelmente, a uma próxima etapa em nossas vidas.


Eis aqui outro interessante trecho dessa crônica:


"Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada."


No meio profissional, conheço diversas pessoas – e provavelmente você também – que sempre foram resistentes ao novo, às implementações de projetos sem ao menos desejarem aprender com as novas descobertas ou analisar os ganhos que seriam possíveis com eles. O que dizer dos "piruás", então? Embora possa ter diferentes significados em outras regiões do país, Rubem Alves nos conta que "piruá" é o milho da pipoca que se recusa a estourar, aquele que sobra lá no fundo da panela: "(...) Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem".


Por resistirem ao calor do fogo, ao poder da transformação, penso que muitos profissionais acabam por perder uma série de oportunidades. Presenciei, ao longo de duas décadas, isso acontecer frequentemente em ambientes de trabalhos de Marketing e Comunicação Corporativa e penso que não tenha sido diferente em outras áreas de atuação. E claro que essa resistência é também aplicada às situações da vida cotidiana, em nossas relações sociais, quando esquecemos que o princípio maior da vida é a evolução.


Estes dias me explicaram que uma mudança representa um processo externo, com suas diferentes variáveis que impactam uma pessoa. E esses fatores surgem e se apresentam como algo que nem sempre desejamos ou mesmo esperamos em uma organização. É aquilo que ainda nem aconteceu e já nos incomoda. Já a transição é, na verdade, um processo interno, que conscientemente leva a pessoa de um momento no presente para um caminho no futuro. É a transição, portanto, que nos faz lidar (bem ou mal) com essa mudança.


Em outras palavras: uma mudança no ambiente corporativo, por uma estratégia já definida, vai sempre ocorrer, queira a gente ou não. E lidar bem com essa transição para "digerir" a tal mudança dependerá única e exclusivamente de cada um. Em particular, durante toda a minha carreira, aprendi rapidamente a lidar com as transições necessárias para as mudanças que chegaram sem aviso prévio.


Desse cenário de aprendizado, desenvolvi e aperfeiçoei inúmeras competências para me tornar um profissional bem mais completo. Como valeu a pena! Concluí que o fogo está aceso o tempo todo. Passar por ele é mesmo inevitável e é o que nos faz sermos pipoca na vida ou nos juntarmos a este mundo cada vez mais cheio de piruás.


E para você, o fogo arde sem se ver ou você o sente o tempo todo?


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